Falta de água, racionamento e calor só temas que preocupam o governo paulista nos últimos meses, em meio maior crise hídrica da história. Para um inventor de Valinhos, a 85 km de São Paulo, a solução para esses problemas veio, literalmente, do ar.
Engenheiro mecatrônico, Pedro Ricardo Paulino patenteou em 2010 a Wateair, máquina que faz água condensando a umidade do ar.
A água produzida – que passa por um sistema de purificado que elimina as bactérias – é tão limpa que seu uso inicial foi em máquinas de hemodiálise. Para ser consumida, ela precisa passar por um segundo filtro, que adiciona sais minerais a solução.
Tudo o que a Wateair precisa para funcionar estar ligada na tomada. Quanto mais úmido estiver o ambiente, mais ela produz. Porém, se a umidade cair a menos de 10%, ela para de funcionar. No dia mais seco deste ano em São Paulo, o nível chegou a 19%.
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Salgada
A contadora Maria Helena Castro, 31, comprou uma máquina em maio para suprir a falta d’água no sítio dela em Itu (a 101 km de SP).
Ela desembolsou R$ 120 mil na versão que produz até mil litros por dia. “Tinha problemas com falta de água desde fevereiro. Hoje, crio minhas galinhas, porcos, coelhos e irrigo minha plantação sem dor de cabeça”, diz.
Maria Helena conta que o preço compensa e que ainda no precisou fazer nenhuma troca de filtro ou manutenção.
O inventor explica que, como os componentes da máquina são importados e a demanda ainda pequena, os custos são elevados. “Tudo encomendado e praticamente no existe nada feito em linha de produção”, afirma.
A menor máquina, que produz 30 litros por dia com a umidade relativa do ar a 80%, custa R$ 7.000. A maior, que chega a 5.000 litros por dia, vendida por R$ 350 mil.
Segundo o criador, o gasto de energia elétrica para fazer um litro de água equivalente a R$ 0,17 em São Paulo. Portanto, encher uma caixa d’água de mil litros custa R$ 170.
A Sabesp cobra em média R$ 7,25 (incluindo a tarifa de esgoto) para distribuir a mesma quantidade a uma família de quatro pessoas. Ainda assim, o inventor diz que a procura pela máquina aumentou exponencialmente nos últimos meses.
“Os clientes antes eram escolas ou pessoas que precisavam de água potável em menor quantidade. Agora, vendemos a restaurantes, produtores de remédios e outros prejudicados pelo fornecimento de água e pela dificuldade da captação por poços”, diz.
Paulino começou o projeto nos anos 1990, numa multinacional. Em 2006, passou a desenvolver a máquina com o próprio dinheiro. Quatro anos depois, conseguiu atestar a qualidade da água produzida e patenteou a Wateair.
Para o inventor, o aparelho pode ser uma das soluções para a crise. “Máquinas como essa em escala gigante e a dessalinização da água do mar são opções para o futuro de São Paulo.”
Como funciona:
- Turbinas aspiram o ar para dentro da máquina;
- As moléculas de água são condensadas e tornam-se líquidas;
- Filtros e raios ultravioleta purificam a água;
- Outro filtro adiciona sais minerais;
- Pronta para ser consumida, a água armazenada em um reservatório.