28 de maio de 2012 • 09h15
A síndrome de couvade se refere a homens que sentem uma proximidade emocional com a gestação tão intensa a ponto de apresentar alterações comuns à mulher durante a gestação
Existem muitas maneiras de o homem participar do processo da gravidez. Ele pode estar presente nas consultas médicas, ajudar a montar o berço e até ganhar uns quilinhos a mais para ficar com uma barriga parecida com a da parceira. Esse último exemplo, mais comum do que se imagina, é apenas um dos sintomas semelhantes ao da gravidez que os futuros papais podem apresentar durante a gestação das mulheres.
Esses sintomas são caracterizados como “síndrome de couvade”. A expressão é derivada do termo francês “couver” (“chocar”, em tradução livre) e foi usado para denominar costumes de tribos indígenas em que o homem simula o trabalho de parto e repousa após o nascimento do filho, recebendo visitas e presentes. A síndrome, que não chega a ser considerada uma patologia, se refere a homens que sentem uma proximidade emocional com a gestação tão intensa a ponto de apresentar alterações comuns à mulher durante a gestação.
Identificação com a mulher grávida
Não existem estudos conclusivos sobre as causas desse comportamento, que é considerado uma maneira de o homem se identificar com a mulher grávida e compartilhar os acontecimentos da gravidez. “Paternidade é um desenvolvimento emocional do homem que mexe profundamente com as emoções, o que pode se refletir no corpo”, afirma a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora do livro Nós Estamos Grávidos (Integrare Editora).
Essa situação pode ter impactos emocionais, psicológicos – entre eles estresse, oscilações de humor e desejo de comer determinados alimentos – e também, físicos – como dores de cabeça, mal-estar, náusea e ganho de peso na região da barriga.
Uma pesquisa recente feita pela fabricante de fraldas Pampers apontou que 23% dos homens sentiam sintomas semelhantes aos da grávida – destes, 26% apresentaram alterações de humor, 10% desejo por comidas bizarras, 6% enjoos, 8% disseram chorar com mais facilidade e 3% afirmaram ter sentido dores semelhantes às do parto.
Esses sintomas não costumam apresentar problemas para o homem. “Normalmente, ele nem repara que está tendo os sintomas ou não os associa com a gravidez da mulher”, diz Milena da Rosa Silva, professora do Instituto de Psicologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Ela ressalta, porém, que o homem deve procurar ajuda médica ou psicológica se achar que os efeitos estão atrapalhando sua rotina.
Um dos problemas que a síndrome pode provocar é um conflito no relacionamento. “Às vezes, ele pode focar demais nos seus próprios problemas e não nos da esposa grávida, que acaba tendo que cuidar do marido”, afirma Milena.
Os sintomas costumam passar naturalmente, antes mesmo do parto. Conforme a gravidez evolui, o homem adquire outras formas de participação, como conversar com o bebê na barriga da mulher, conferir as ultrassonografias e arrumar o quarto do bebê, comportamento que é conhecido como “preparo do ninho”. Por isso, a síndrome está mais associada aos primeiros meses de gestação.
Participação na gravidez
A maneira de o homem se envolver na gestação varia conforme a pessoa, mas a participação do pai no processo é considerada fundamental. “Quanto maior for a presença do homem no processo da gravidez e do parto, e o envolvimento com o recém-nascido, maior será o vínculo com o filho”, afirma Maria Tereza.