Morreu aos 95 anos Stéphane Hessel, um dos maiores amigos e mais incansáveis defensores das Nações Unidas. Tinha, como costumava dizer, duas bíblias:”a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
Stéphane Hessel foi um dos redactores da Declaração Universal, e trazia sempre consigo uma cópia da Declaração no seu bolso direito. “Não preciso de abri-la, eu sei cada um dos trinta preciosos artigos de cor”.
Stéphane Hessel nunca perdia uma ocasião de falar em defesa dos pobres e oprimidos em toda a parte, e na verdade é difícil pensar em alguma causa universal que ele não apoiasse. O seu único lamento, como nos disse recentemente, era poder não viver até ver o Estado Palestiniano.
Em 2011, com 93 anos, Stéphane Hessel atingiu um outro estatuto, o de autor de um êxito de vendas com o seu manifesto “Indignai-vos”, que vendeu mais de 4.5 milhões de cópias em 35 países. O livro inspirou o movimento “Occupy Wall Street”, que se iniciou no bairro financeiro de Nova Iorque e que foi replicado em todo o mundo, e o movimento “Indignados” em Espanha.
Quando recentemente lhe perguntaram qual seria o seu próximo projecto, Stéphane Hessel respondeu “morrer”.
“A morte para mim é uma amiga, tenho muito respeito pela morte e não tenho medo nenhum de morrer, de facto, quando decidir chegar, irei recebê-la de braços abertos”. Com o seu sorriso habitual, acrescentou “mas estejam descansados, eu continuarei a ajudar as Nações Unidas para onde quer que vá”.
O manifesto “Indignai-vos” defende que os Franceses precisam de sentir novamente a revolta, como aconteceu com aqueles que participaram na Resistência, liderados pelo General Charles De Gaulle durante a Segunda Guerra Mundial. As razões que Hessel apresentava para a revolta pessoal incluíam o fosso crescente entre os que têm e os que não têm, o tratamento dado pela França aos imigrantes ilegais, e os abusos ambientais.
Hoje celebramos a vida e o trabalho de um verdadeiro amigo.
Nota Biográfica
Stéphane Hessel
Nascido em Berlim em 1917, foi preso pela Gestapo durante a Segunda Guerra e mais tarde enviado para os campos de concentração de Buchenwald e Dora. Stéphane Hessel iniciou a sua carreira nas Nações Unidas a trabalhar com o seu compatriota Henri Laugier, o primeiro secretário-geral assistente para os assuntos sociais (1946-50). Mais tarde, foi vice-administrador do PNUD para política e avaliação (1970-72). Entre estes dois postos trabalhou para o Ministério Francês dos Negócios Estrangeiros, sendo responsável pelas questões de direitos humanos e assuntos sociais. Entre 1976 e 1981 foi o representante permanente de França em Genebra, capital económica e social da ONU. Foi membro do Grupo de Trabalho Independente sobre o Futuro das Nações Unidas (1994-95) e representante francês na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos em Viena em 1993, tendo também presidido a delegação francesa na Comissão dos Direitos Humanos noutras ocasiões