As tragédias mundiais sempre estiveram presentes na história e no último século isso não foi diferente. Duas Guerras Mundiais devastaram a Europa e parte da Ásia e locais nas Américas trazendo a tona, mais uma vez, o potencial destrutivo do ser humano; vide o holocausto e o uso de armas nucleares. Porém, as guerras exigem avanços tecnológicos e científicos e estes avanços, por sua vez, trazem benefícios a toda a humanidade.
Os estudos sobre o efeito do treinamento resistido foram crescentes após a Segunda Guerra, principalmente nas mãos de DeLorme e Watkins que, em 1948, demonstraram o efeito restaurador do treinamento resistido na reabilitação de soldados que lutaram na Guerra. Seus estudos alavancaram um campo de pesquisa até então de pouco interesse para a comunidade científica.
Nos dias atuais as pesquisas neste campo discutem desde a metodologia de treinamento, passando pelos fatores moleculares que influenciam na resposta ao treinamento e chegam ao seu uso em pessoas acometidas por alguma deficiência ou patologia (diminuição da massa óssea e muscular, diabetes, hipertensão, cardiopatias, entre outras). Muito ainda precisa ser feito e algumas controvérsias ainda persistem.
Nosso intuito neste breve artigo e trazer alguns esclarecimentos sobre os benefícios e os cuidados que devem ser adotados por indivíduos que possuem algum problema cardiovascular e desejam realizar o treinamento resistido.
O treinamento resistido (popularmente conhecido como musculação) só foi incluído nas diretrizes internacionais no início de 1990, ou seja, a menos de duas décadas. Seus benefícios, quando bem prescrito e supervisionado, em indivíduos saudáveis são incontestáveis, principalmente para indivíduos mais idosos que com o passar da idade vão apresentando uma diminuição da massa muscular e óssea, reduzindo a capacidade para a realização das atividades da vida diária. A American Heart Association descreve os seguintes benefícios do treinamento resistido para:
- Composição corporal:
- Aumento da densidade mineral óssea;
- Diminuição do percentual de gordura corporal;
- Aumento da massa magra corporal;
- Aumento da força muscular.
- Metabolismo da glicose:
- Diminuição dos níveis de insulina em repouso;
- Aumento da sensibilidade a insulina.
- Colesterol (lipoproteínas e lípides):
- Leve aumento do HDL (“bom colesterol”);
- Leve diminuição do LDL (“mau colesterol”);
- Leve diminuição dos triglicerídeos.
Em indivíduos portadores de algum problema cardiovascular as grandes questões a serem trabalhadas são os aumentos de pressão arterial e freqüência cardíaca durante o esforço e a intensidade do esforço.
Durante a execução do treinamento resistido com intensidade de 70-80% de 1 repetição máxima (RM) ocorre um aumento da pressão arterial, tanto da sistólica (máxima) como da diastólica (mínima). Já em intensidades mais baixas, de 30-40% de 1RM os níveis de pressão arterial apresentam uma resposta semelhante ao treinamento aeróbio, sou seja, aumento moderado da pressão arterial sistólica sem aumento da pressão arterial diastólica.
Alguns estudos recentes mostram que, o treinamento resistido para indivíduos hipertensos, não apresentou melhora significativa na diminuição da pressão arterial, contudo diminuiu o risco de morbidade e mortalidade.
Quando o treinamento resistido foi associado ao treinamento aeróbio, a melhora foi evidente.
A frequência cardíaca se comporta de modo semelhante à pressão arterial. Intensidades de exercício mais altas resultam em um grande aumento da freqüência cardíaca. Enquanto, em intensidades mais baixas a freqüência cardíaca aumenta como observado no treinamento aeróbio, ou seja, um aumento proporcional para a manutenção do exercício.
Além das respostas de pressão e freqüência apresentadas durante o esforço de alta intensidade, após o esforço intenso pode haver uma diminuição na distribuição de sangue para o coração devido a alta necessidade de sangue pelos músculos ativos. Todavia, em baixas intensidades isso não ocorre.
Sendo assim e seguindo as recomendações internacionais, o exercício resistido é indicado para qualquer indivíduo em qualquer faixa etária por seus benefícios à saúde e bem-estar. Em indivíduos cardiopatas a recomendação da American Heart Association e do American College of Sports Medicine, é a seguinte:
- Número de séries: Uma série de cada exercício.
- Número de repetições: De 10 a 15 repetições.
- Número de exercícios: De 8 a 10 exercícios.
- Freqüência semanal: De duas a três vezes por semana.
- Intensidade do esforço: De baixa para moderada intensidade – 40% de 1RM.
O objetivo desta prescrição não é a hipertrofia (aumento no tamanho da célula muscular) e nem tão pouco de rendimento esportivo. Esta recomendação visa o condicionamento físico geral. Buscaremos sempre trabalhar com grandes grupamentos musculares e exercícios mais básicos. Se você quiser fazer uso da tabela de esforço perceptivo de Borg, o resultado deve ser de 11 a 14.
Mais do que nunca, um bom trabalho multidisciplinar se faz necessário nestas situações. Uma boa conversa entre o médico e o educador físico ajudará a levar o aluno a uma melhor qualidade de vida. Nunca é tarde para se começar, desde que com segurança e conhecimento técnico. Boa prática!