Publicado em 17/12/2015
Lançado pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) nesta semana, o relatório mostra que, de 1990 a 2014, o IDH do Brasil foi o que mais cresceu entre os países da América do Sul e ocupa o 75º lugar em ranking de 188 países.
Com o tema focado na adaptação ao novo mundo do trabalho, relatório de desenvolvimento humano 2015 reúne queda na pobreza e destaca Bolsa Família.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil apresentou melhora em 2014, confirmando a tendência de crescimento observada nas últimas décadas. O país também teve queda na pobreza multidimensional, que considera as privações que as famílias possam ter em saúde, educação e padrão de vida. Os dados fazem parte do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) lançado pelo PNUD na segunda-feira (14/12) em Adis Abeba, na Etiópia.
Com IDH de 0,755, o Brasil está na categoria de países de Alto Desenvolvimento Humano, a mesma que ocupam Uruguai, Venezuela, México, Turquia, Rússia e China. Entre 2010 e 2014, o indicador do país cresceu 0,60% ao ano. O ritmo mais acelerado do Sri Lanka (0,62%) no período fez com o que o Brasil perdesse uma posição no ranking, aparecendo agora em 75º entre 188 países e territórios reconhecidos pela ONU.
Em uma perspectiva de longo prazo, o RDH 2015 mostra que o Brasil continua a seguir uma tendência de crescimento do IDH, com uma alta acumulada de 24,2% entre 1990 e 2014, um crescimento anual médio de 0,91% no indicador. Esse foi o melhor desempenho entre os países da América do Sul no período.
Isso significa que os brasileiros ganharam 9,2 anos de expectativa de vida, viram a renda aumentar 50,7% enquanto, na educação, a expectativa de anos de estudo para uma criança que entra no ensino em idade escolar cresceu 24,5% (3 anos), e a média de anos de estudos de adultos com 25 anos ou mais subiu 102,6% (3,9 anos).
Queda da pobreza multidimensional
A evolução dos indicadores seguiu-se pela queda da pobreza multidimensional, que aponta privações que as famílias podem ter em educação (taxas de matrícula e anos de estudo), saúde (desnutrição e mortalidade infantil) e padrão de vida (acesso a água, energia elétrica, tipo de piso, saneamento, tipo de combustível doméstico e bens de consumo).
Entre 2006 e 2013, o total de brasileiros que vivem em condição de pobreza multidimensional caiu de 4% para 2,9%. De acordo com os dados, a maior privação é na área de saúde, especificamente em relação à mortalidade infantil. Da mesma forma, o percentual de famílias que vivem próximas à pobreza multidimensional, ou seja, que estão mais vulneráveis a essa situação, caiu quatro pontos percentuais descendo de 11,2% para 7,2%, no mesmo período. A fonte nacional usada para o cálculo foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE.
Desigualdade ainda persiste no país
Mesmo reconhecendo o avanço social consistente do Brasil nas últimas décadas, o Relatório traz dados que confirmam o alto nível de desigualdade no país. A distribuição desigual do desenvolvimento humano é medida em cada uma das três dimensões do IDH (longevidade, educação e renda) e então descontada do valor original do indicador.
Quanto maior o percentual de desconto, maior a desigualdade no país. No caso brasileiro, descontada a desigualdade, o IDH teria uma perda de 26,3%. A redução em razão da desigualdade está entre as maiores do grupo de países de Alto Desenvolvimento Humano (19,4%), ficando atrás apenas do Irã (33,6%) nessa categoria e à frente da média mundial (22,8%).
O reflexo da desigualdade no Brasil também se nota quando o assunto é gênero. No Brasil, apenas 9,6% dos assentos no Congresso Nacional são ocupados por mulheres. O índice está muito abaixo da média mundial (21,8%) e de países como Zimbábue (35,1%), Síria (12,4%) e Arábia Saudita (19,9%). A Bolívia, país vizinho do Brasil, possui 51,8% de mulheres ocupando estes cargos.
No campo da saúde e da educação, o Relatório afirma que as mulheres vivem e estudam mais do que os homens. No Brasil, a expectativa de vida das mulheres é de 78,3 anos, enquanto a dos homens é de 70,7 anos. A expectativa de escolaridade também é maior para elas (15,6 anos de estudo) do que para eles (14,8 anos de estudo). Mesma situação para a média de anos de estudo. No caso das mulheres ela é de 7,8 anos, enquanto no caso dos homens, de 7,5 anos. Mesmo estudando mais, a renda nacional bruta para elas é 40,4% menor do que a dos homens.
A desigualdade de gênero não é uma realidade exclusivamente brasileira, no entanto. O Relatório afirma que, em todo o mundo, as mulheres são responsáveis por três a cada quatro horas de trabalho não remunerado, como aqueles que envolvem atividades domésticas e trabalho de cuidado com crianças e idosos, por exemplo.
Ocupando apenas 22% dos cargos de alta gerência nas empresas, as mulheres ganham, em média, 24% menos do que os homens, além de terem menos tempo livre para lazer e atividades sociais.
Bolsa Família faz diferença
Neste ano, o Relatório faz dez menções diretas ao Brasil, com destaque ao programa de transferência de renda condicionada Bolsa Família, que recebeu três citações, reconhecendo a iniciativa como uma política pública de sucesso que forneceu proteção social efetiva à população e que, por isso, foi replicada em outras partes do mundo.
As outras citações ao país referem-se a associações sindicais, aumento do consumo da classe média, migração interna campo-cidade, proporção de extensionistas rurais por família, trabalhadores na indústria do tabaco, inclusão financeira e sobre o Programa de Aceleração do Crescimento.
Acesse o relatório, na íntegra, em http://report.hdr.undp.org