Arte marcial vai muito além do show midiático de violência promovido pelas competições, é um conjunto de princípio de controle físico, mental e emocional, que permitem a qualquer indivíduo alcançar pleno domínio da sua vida
Rodrigo Frota, 9 de julho de 2014
Durante muitos anos as Artes Marciais estiveram envolvidas em um manto de mistério e esoterismo enfatizados pelos filmes e histórias dos feitos fantásticos dos artistas marciais. Aos poucos esse manto foi sendo descoberto, e hoje está totalmente inserido na vida do brasileiro, principalmente, pela exposição de competições como o MMA (Mixed Martial Arts).
Caminhado além do efeito midiático das lutas e competições, a pergunta que fica é: o que podemos realmente aprender com as “Artes Marciais”? As organizações podem aproveitar isso para serem mais eficientes? Vamos lá!
Quando se fala em Arte Marcial, lembra-se logo do livro “A Arte da Guerra”, escrito por Sun Tzu há 2.500 anos, que se tornou referência em estratégias de guerra e combate ao longo de anos, sendo utilizado atualmente como um ícone em estratégias de negócios e administração.
A Arte da Guerra é atemporal, pois ele sistematiza o que acontece em qualquer tipo de batalha, seja ela em uma guerra, entre corporações ou entre pessoas e grupos, construindo um padrão de atitudes a ser aplicado em qualquer área. Outras grandes obras completam as referências no assunto de estratégia como Arte da Prudência (Baltasar Gracián, 1647) é o Príncipe (Maquiavel, 1513).
Assim como o próprio nome sugere Arte da Guerra ou Arte Marcial não se resume à estratégia militares ambientais, sendo uma arte, também se aplica ao desenvolvimento pessoal buscando preencher o ser humano com técnicas, valores e crenças que permitiram alcançar maior eficiência no desempenho de uma atividade.
Assim, aquele que alcançar pleno domínio da técnica consegue transmitir a beleza e graça de quem domina o “estado da arte”. Tudo isso por meio do treinamento de habilidades, de seu foco, superação, perseverança, capacidade estratégica, ausência de julgamento, silenciamento da mente racional, criação de hábitos fortalecedores, dentre outros parâmetros. Mas todos sugerem uma visão sistêmica de controle físico, mental e emocional, conquistando o pleno conhecimento de si mesmo.
Assim, não é difícil perceber que os valores treinados e desenvolvidos por um artista marcial podem ser aplicados no mundo pessoal, profissional e nos negócios de forma prática. Em uma organização, por exemplo o objetivo é aumentar o desempenho de cada pessoa e, por conseqüência, o desempenho de toda a organização, nesse sentido o domínio das técnicas marciais torna-se de grande importância em um mundo cada vez mais competitivo.
A pessoa busca uma arte marcial por diversos motivos, mas aquele que se identifica com a arte marcial, percebe que existe muito mais do que movimento e exercícios ou violência. Estudo da Universidade de Tel Aviv (ISR) mostrou que crianças que passaram a praticar esportes, inclusive artes marciais, apresentaram um maior autocontrole e disciplina, além de diminuir a agressividade. A prática de uma arte marcial por si só desenvolve um novo comportamento social e psíquico a partir da própria estrutura, da hierarquia, das regras e da parte filosófica, passando a afetá-la positivamente em todas as áreas de sua vida. E que melhorar a sua técnica marcial implica em melhorar o desempenho em todos os papeis, incluindo o seu papel em sua empresa, seja como colaborador ou como empresário.
Entre as lições que se pode destacar das artes marciais pode-se citar com facilidade a coragem, estratégia, disciplina, agilidade, flexibilidade, controle e autoconhecimento. Entretanto, existem outras menos perceptíveis que não são explicadas, mas apenas sentidas por quem está integrado a uma arte marcial.
Ressaltasse-se no que se refere à coragem que todo profissional ou empresário que deve possuir um espírito indomável, a habilidade para não ser intimidado pelas circunstâncias. Assim, a arte marcial mostra o caminho para encontrar a coragem necessária para superar as limitações que são colocadas no caminho o caminho do praticante.
Estratégia, essas é uma das palavras mais importantes em artes marciais e de negócios. Um fato interessante sobre estratégia é que podemos aprender as mesmas técnicas de combate, mas cabe a cada um de nós para encontrar a sua própria luta estratégica, é a nossa forma partícula de lutar e encarar a batalha que nos permitirá alcançar o êxito almejado.
Já a agilidade torna-se importante, pois, como diz Bill Gates o grande desafio dos negócios é convencer a todos de que a sobrevivência da empresa depende de todos se movendo o mais rápido possível, individualmente o mesmo raciocínio se aplica.
Flexibilidade é outra habilidade importante que se aprende a partir de artes marciais. Flexibilidade na arte marcial não é apenas um aspecto físico; também é a capacidade mental para se adaptar rapidamente a qualquer estilo de luta, sem recorrer aos estilos que você já domina. Flexibilidade é a capacidade de agir em direção oposta à sabedoria convencional, a flexibilidade é a vontade de experimentar coisas novas sem recurso à dor envolvida.
O artista marcial aprende a controlar e sentir o seu corpo em primeiro lugar. Essa é a primeira e mais simples etapa, pois basta à repetição e o treino para atingi-la. Daí vem o controle da mente sobre as ações e reações do corpo. É o controle que impede que o aluno abaixe o braço, mesmo que tenha sido golpeado fortemente nele. Controlar seu próprio corpo significa não deixar que o mundo externo interfira em suas ações.
Esta percepção começa a se refletir em todos os aspectos da vida. Ele começa a perceber coisas sobre si mesmo que não notava antes e a prestar mais atenção aos mínimos detalhes de suas ações e atitudes. Ele aprende que toda a luta foi para combater a si mesmo, vislumbra que aprender a lutar é o caminho, a ferramenta para desenvolver todos os aspectos do seu autoconhecimento, e pré-requisito para o seu autocontrole, e é apenas por meio do autocontrole que podemos dizer onde queremos chegar como pessoa, empresa ou sociedade.