Por que há mais mulheres do que homens entre doadores de órgãos

14 setembro 2018

Dia 27 de Setembro, Dia Nacional de Doação de Órgãos

Em 2016, os rins da minha mãe começaram a falhar – mais uma vez. Seu primeiro transplante após vários anos na lista de espera, havia vindo de um cadáver. Da segunda vez, no entanto, sua irmã mais nova estava preparada e disposta a ser a doadora.

Como uma mulher doando para um ente querido, minha tia se encaixava na descrição básica da maioria dos doadores de rim. As mulheres representam 60% dos doadores de rim dos Estados Unidos e outros países apresentam números parecidos. No Brasil, não há um número nacional sobre as distinções de gênero entre doadores.

No entanto, sabe-se que em vários lugares do mundo essa diferença de gênero está crescendo. Desde 2008, o número de doadores homens caiu em todos os estudos demográficos nos EUA. Mas a maioria das pessoas esperando por um transplante – 59% – são homens.

O desequilíbrio na questão das doações de rins – mais homens precisam enquanto mais mulheres doam – não significa apenas um fardo a mais para elas. Pode haver consequências para a saúde dos homens também.

Diferenças de tamanho

Há dados conflitantes sobre o efeito da incompatibilidade de gênero no sucesso de um transplante. Mas um estudo com mais de 230 mil doações de órgãos nos EUA entre 1998 e 2012 indica que os transplantes renais de mulheres para homens estão entre os que tinham a menor probabilidade de dar certo. Essa tendência acontece com outros órgãos também: homens que receberam um coração de uma mulher e não de um homem, por exemplo, tinham uma chance 15% maior de morrer nos 5 anos seguintes.

Uma razão pela qual o gênero pode ter um papel nisso é a diferença nas dimensões dos órgãos, diz Rolf Barth, chefe da Divisão de Transplantes do Centro Médico da Universidade de Maryland.

Ele diz que um rim pequeno não funciona muito bem para pessoas maiores, já que órgãos menores têm uma probabilidade menor de acompanhar as demandas de um corpo maior. Uma análise com mais de 115 mil receptores de rins, por exemplo, descobriu que o risco de fracasso era maior quando a diferença de peso entre doador e receptor superava os 30 kgs.

Mesmo que uma mulher e um homem tenham o mesmo peso, os órgãos das mulheres tendem a ser menores. Mas muitas vezes o único aspecto relacionado a tamanho levado em consideração é o peso – o que pode contribuir para o risco de descompasso de gênero.

Além de tamanho, outra questão é que os corpos de homens e mulheres têm antígenos diferentes. Novos avanços médicos indicam que isso está se tornando um problema menor, diz Barth. “Na era moderna, usamos imunoterapias de indução mais intensas”, diz ele. “Essas diferenças sobre compatibilidade e gênero foram minimizadas”.

Há outras desigualdades de gênero na doação de órgãos. Um estudo com 101 pacientes negros que moram em áreas urbanas apontou que mulheres em tratamento de diálise tinham uma probabilidade menor de serem avaliadas para transplante de rim do que os homens em diálise. Elas também tinham uma tendência menor a querer um transplante de rim, apesar de receber mais ofertas do que homens.

Enquanto isso, um estudo muito maior com mais de 700 mil pacientes encontrou uma disparidade estranha de gênero em termos de índice de massa corporal: enquanto mulheres com sobrepeso tinham uma tendência significativamente menor de receber transplantes do que seus colegas mais magros, os homens com sobrepeso tinham uma tendência maior a receber transplantes.

Não está claro ainda o que causa essas disparidades. Mas há algumas teorias mais embasadas sobre o motivo pelo qual mais mulheres doam órgãos que homens.

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(Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-45225702, data de acesso: 13/09/2019)

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