Especialistas dizem que biologia, estilo de vida e comportamento poderiam explicar diferença no número de mortes de homens e mulheres por covid-19
08/04/2020 08h16
Na Itália, sete em cada dez mortos são do sexo masculino; no Brasil, proporção é de 60%; especialistas dizem que biologia, estilo de vida e comportamento poderiam explicar diferença.
Já se sabe que a covid-19 tende a afetar mais os velhos e aqueles com doenças associadas, as chamadas comorbidades. Mas desde que o coronavírus se alastrou e provocou mortes em mais de uma centena de países, uma pergunta vem intrigando cientistas de todo o mundo: por que homens estão morrendo mais do que as mulheres?
A tendência foi observada inicialmente na China, onde o surto teve origem. Depois, se refletiu em países como França, Alemanha, Irã, Itália, Coreia do Sul e Espanha.
E também no Brasil. Segundo últimos dados do Ministério da Saúde, 58% dos óbitos por covid-19 foram de pacientes do sexo masculino.
O número surpreende ainda mais quando se leva em conta que, no país, há 4 milhões mais mulheres do que homens acima dos 60 anos – faixa etária a partir da qual a maior parte das mortes por covid-19.
Cientistas ainda não sabem dizer ao certo por que isso vem ocorrendo.
Mas apostam que a resposta não está em um único fator, mas possivelmente numa combinação deles: biologia, estilo de vida e comportamento poderiam explicar o caráter “sexista” da covid-19.
Estilo de vida pouco saudável?
Uma primeira explicação veio da China. Naquele país, estudos preliminares mostraram que os homens corriam muito mais risco do que as mulheres em relação ao coronavírus.
Um levantamento com 99 pacientes em um hospital na cidade de Wuhan, origem do surto, descobriu que dois terços dos pacientes eram homens e mais da metade dos doentes hospitalizados tinham doenças crônicas como cardiopatias ou diabetes.
Dados mais recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês, baseados em dezenas de milhares de casos, revelaram que 64% dos mortos por covid-19 eram homens.
A causa mais provável teria a ver, então, com o estilo de vida. Ao redor do mundo, homens tendem a beber e a fumar mais do que as mulheres e, portanto, ficam mais suscetíveis a desenvolver doenças pulmonares e cardiopatias, o que os fragilizariam caso contraíssem o coronavírus.
Os números embasavam essa constatação: 48% dos chineses acima de 15 anos fumam, contra apenas 2%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, fumantes tocam a boca a todo o momento, porta de entrada para o vírus, e têm mais chances de compartilhar cigarros contaminados.
Um estudo com 1.099 pacientes na China com covid-19, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, em fevereiro deste ano, revelou que 26% daqueles que precisam de cuidados intensivos ou morreriam eram fumantes.
E, num contexto mais amplo, também há o fator comportamental: estudos mostram que homens lavam menos as mãos do que as mulheres, tendem a usar menos sabão, assim como deixam de ir ao médico com regularidade e ignoram os alertas das autoridades de saúde.
Mas outros aspectos começaram a ser considerados a partir do momento em que o coronavírus cruzou as fronteiras da China e atingiu outros países.
Na Coreia do Sul, por exemplo, embora mulheres sejam 61% dos casos confirmados, 54% dos mortos são homens.
Já na Itália, sete em cada dez óbitos por covid-19 são de pacientes do sexo masculino, embora 28% dos homens e 19% das mulheres fumem.
E na Espanha, o número de homens mortos é o dobro do de mulheres.