Médicos e profissionais do esporte defendem a criação de mais espaços para a prática orientada de atividades físicas
Bruno Folli, de Curitiba | 11/08/2010 11:45:11
Pelo menos 60% da população brasileira pratica exercícios em quantidade insuficiente, estima Maria Eugênia Bresolin Pinto, especialista em saúde pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Dados recentes do Ministério da Saúde mostram que o número de sedentários está aumentando. Ele passou de 13,2% da população em 2003, para 16,4% em 2009, provavelmente pelo aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho.
“O sedentarismo é uma epidemia mundial e está associada a diversas doenças graves, como infarto, câncer, depressão, hipertensão e diabetes”, afirma Maria Eugênia.
Isso causa um prejuízo alto aos cofres públicos, de acordo com apresentação da especialista no 22º Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e Esporte, em Curitiba (PR). O evento aconteceu na última semana, entre os dias 5 e 7.
“O sedentário europeu gera um gasto médio de 13 mil euros por ano, enquanto apenas 800 euros são destinados ao incentivo de exercícios”, compara a médica. No Canadá, o sedentarismo provoca 21 mil mortes precoces por ano. Mas e o Brasil, onde se encontra neste ranking?
“Não há como saber ainda porque faltam pesquisas nessa área”, diz a especialista. Mesmo assim, ela sugere que o incentivo à atividade física por ser feito com estratégias simples e baratas.
Uma experiência de três meses acompanhada pela especialista revela que os médicos do Programa Saúde da Família (PSF) podem aumentar a adesão aos exercícios. “Se cada médico dedicar cerca de dois minutos para falar sobre a importância da atividade física, metade dos pacientes muda de atitude e passa a praticar mais”, afirma.
Relação viciada
O problema, afirma Bruno Noronha, especialista em medicina do esporte, é a perpetuação da relação “viciada” entre pacientes e médicos. “O paciente vai buscar novas receitas de remédios com o médico, que simplesmente os prescreve sem verificar se realmente há necessidade de usá-los”, afirma.
Noronha realizou um trabalho recente na Amazônia, onde visitou mais de 100 municípios para acompanhar o trabalho dos médicos do SUS. “Ninguém recomenda exercícios, há uma cultura de valorização dos medicamentos. Vi inúmeros pacientes que diziam ter diagnóstico de hipertensão, mas poderiam resolver o problema com um pouco mais de atividade física”, afirma.
O médico explica que é preciso criatividade para motivar os pacientes. “Criava brincadeiras para explicar o que é uma alimentação saudável e para que servem os exercícios”, recorda.
Além do primeiro contato, é preciso acompanhar o paciente para mantê-lo incentivado à prática esportiva.
“Ligamos para o paciente a cada três meses”, afirma o reumatologista Páblius Staderto, especialista em medicina do esporte do Hospital Nove de Julho.
Staderto realiza um trabalho de incentivo ao exercício em empresas e explica que o acompanhamento é como nos trabalhos de combate ao tabagismo. “Um simples contato, por mais breve que seja, já tem uma importância enorme ao paciente. Faz com que ele se sinta incentivado, com a presença de alguém por perto”, afirma o médico.
Além da mudança de postura dos médicos e profissionais de saúde, que precisam passar a prescrever mais exercícios, Maria Eugênia destaca a importância de investimentos em centros comunitários. “O médico precisa ter um espaço para encaminhar o paciente, onde ele possa realizar exercícios supervisionados”, afirma.