27 de julho de 2017 às 13:45
Pare para pensar na presença do plástico em sua vida. A disseminação deste material é tão grande que, diariamente, quase tudo o que consumimos é feito de algum tipo de plástico, seja na embalagem ou na confecção de um produto. E quando o objeto não se faz mais necessário, jogamos fora. No entanto, até a sua destinação pode ter um final útil.
O lixo não precisa ser o destino final do plástico. Pelo contrário: é possível reaproveitá-lo. Inclusive para desenvolver bicicletas ecologicamente corretas, como no caso da Muzzicycles. A Muzzicycles é uma bike urbana feita majoritariamente de plástico reciclado, lançada comercialmente em 2012, pelo uruguaio Juan Muzzi, radicado no Brasil há mais de 40 anos.
Juan é um inventor nato. Lembra aquelas molas coloridas que foram febre nos anos 1990? Ele mesmo quem desenvolveu: só no Brasil foram produzidas 44 milhões de unidades. Pois ele encontrou no lixo a oportunidade de empreender novamente e produzir um meio de transporte sustentável, um sonho em sua vida. Mas, para a Muzzicycles dar certo, foi necessário muito esforço. Ao todo, 12 anos de pesquisas, mais de cinco milhões de dólares e sete protótipos fracassados, até a bicicleta entrar no mercado.
“Tive a ideia observando um osso, que por ser oco poderia virar um cano de bicicleta. A partir disso, fizemos os primeiros quadros em plástico reciclado, tentando imitar a natureza e eliminar detritos de combustíveis fósseis.
Depois de muito estudo, percebemos o alto custo de CO2 na manufatura. Foi então que começamos a analisar a possibilidade de eliminar minerais como ferro e bauxita e a produção de alumínio, visando diminuir o excesso de consumo de água e de energia. Ao final, percebemos que tudo seria possível no processo de injeção de plástico”, relembra Muzzi, idealizador da solução.
O quadro é o principal componente de uma bicicleta. É nele que guidão, rodas e assento são montados. Após todos estes estudos e protótipos, Juan precisou ainda comprovar a resistência do material. Para isso, chegou a atirar o quadro diversas vezes do alto do prédio de sua fábrica, além de submeter o produto a uma prova e tanto: deixá-lo sob uma empilhadeira carregada com três toneladas e meia. Em nenhum dos dois casos houve um amassado sequer. Com isso, a Muzzicycles ganhou o selo do Inmetro e é a única empresa do mundo a fabricar quadros de bicicletas a partir de plástico reciclado.
O processo para transformar plástico em quadro é rápido. “O material coletado da reciclagem (garrafas PET, embalagens de produtos de higiene e outros plásticos como polipropileno, nylon, ABS) vem por meio da plataforma de valorização de resíduos pós-consumo Wecycle. Ele é cortado, triturado, tratado e injetado em um molde – cada quadro usa cerca de seis quilos do material. Em menos de quatro minutos, está praticamente pronto. Depois, é só seguir para o resfriamento que dura cerca de cinco horas. O produto pesa aproximadamente quatro quilos e é uma peça única com garantia vitalícia”, conta. A Muzzicycles vende – apenas online – tanto o quadro ecológico, a partir de R$ 480,00, como cinco modelos de bicicletas urbanas completas, que variam de R$ 980,00 a R$ 3.900,00.
Além de utilizar material reciclado, a Muzzicycles consegue produzir as bicicletas com uma economia de 90% de energia, em comparação a outras indústrias do setor. “Um quadro de alumínio consome em média mil litros de água, o de plástico consome zero litro. Já o custo de energia, é de aproximadamente 6,8 kW por unidade, o que dá menos que R$1”, compara.
A bike também elimina o uso da solda, por ser peça única, e o da pintura, já que a tinta é injetada no plástico na cor desejada; não enferruja e não necessita de amortecedores, com isso proporciona um pedalar mais leve, com menos trepidação e esforço da coluna vertebral.
Em 2016, a Muzzicycles teve um faturamento de R$ 200 mil mensais, com lucro em torno de 20%. Agora, a meta (e a principal dificuldade) de Juan é conseguir produzir as bikes em escala industrial. “Alguns dos componentes da bicicleta não são fabricados no Brasil, e tem que ser importados do Japão ou da China. Para isso precisa de um alto investimento. Também falta mão de obra e espaço físico para a fábrica”.
A Muzzicycles é uma das soluções selecionadas para o programa de aceleração da Braskem, o Braskem Labs. Juan enxerga no Braskem Labs uma possibilidade de absorver conhecimento para conquistar o seu objetivo de expansão. “Estamos alegres por poder participar do programa. A nossa principal expectativa é que as mentorias nos ajudem a esclarecer dúvidas sobre expansão e gestão, além de conseguir fazer o nosso produto ser aprovado por cada vez mais pessoas”, finaliza.
Conheça as outras empresas selecionadas para o Braskem Labs!