O novo dispositivo imita o coração e tem uma vida útil de cinco anos
A história da cardiologia registra com sucesso, o transplante do primeiro coração artificial auto-suficiente, que ocorreu no dia 18 de dezembro de 2013, data que virou março nesta façanha científica.
Sem dúvidas, uma excelente notícia para milhões de pessoas que esperam um coração. O dispositivo foi construído com tecido bovino e componentes espaciais em miniatura.
O receptor do protótipo do coração artificial, cujo nome ainda é anônimo, sofria insuficiência cardíaca terminal e foi operado no hospital Georges Pompidou na Paris (França).
Depois de quinze anos de investigação e desenvolvimento, a empresa francesa Carmat finalizou seu primeiro coração completamente artificial a princípios de 2013.
O projeto do novo dispositivo biomédico foi possível graças aos conhecimentos do cirurgião cardíaco Alain Carpentier, inventor das próteses biológicas valvulares Carpentier-Edwars e a experiência da companhia aeroespacial Astrium, subsidiária espacial da EADS na construção de satélites.
Em setembro de 2013, Carmat consiguiu a autorização das autoridades francesas para realizar o transplante do seu coração protético em humanos.
Tecnologia de ponta
Formado por dois ventrículos, este novo dispositivo protético imita o coração e tem uma capacidade de bombear 35 milhões de vezes anuais e uma vida útil de cinco anos, podendo ser uma solução a longo prazo para pacientes com problemas cardíacos crônicos.
O coração biomédico utiliza tecnologia desenvolvida para projetos espaciais europeus. Tem componentes eletrônicos em miniatura equivalentes aos instalados em satélites de telecomunicações.
Assim que, uma complexa rede de sensores eletrônicos e um sistema eletromecânico de pressão espacial permite ao aparelho acelerar a frequência cardíaca e modificar sua pressão para regular o fluxo sanguíneo com precisão e de acordo com a necessidade.
Não somente detecta a posição em que se encontra o paciente (de pé, sentado ou deitado), mas também regula a pressão sanguínea de acordo com a atividade do paciente. O sensor de pressão foi projetado pela empresa EADS, líder da indústria aeroespacial mundial.
Menos rejeição
Enquanto que em sua parte exterior o coração artificial está formado por membranas de poliuretano, o pericárdio, ou seja, a camada que recobre o músculo cardíaco (miocárdio) foi elaborada com tecidos extraídos de vacas tratadas com componentes químicos para diminuir as reações de rejeição imunológica, o principal problema nos trasplantes de órgãos.
A composição biológica do coração artificial também reduzirá o risco de acidentes vasculares cerebrais.
Um coração espacial
Para os cientistas que trabalharam no projeto, “o espaço e o interior do corpo humano tem muito em comum”. Os dois são meios severos e inacessíveis”, como comenta Matthieu Dollon, responsável pelo setor de Desenvolvimento na divisão de equipamentos da Astrium em Elancourt, França, que colabora com Carmat no desenvolvimento deste coração protético.
“No espaço não se pode cometer falhas, nem fazer reparações. Se algo estraga, não se pode concertar. O mesmo ocorre no interior do nosso corpo”, conclui Dollon.
Seguindo a comparação entre ambos, as consequências são, certamente, incomparáveis: “se um satélite deixa de funcionar durante o último pênalti da final da Copa do Mundo, é uma grande decepção, no entanto, se um coração deixa de bater durante cinco segundos, as consequências são funestas”.
Enfim, a verdade é que essa viagem ao espaço interno do nosso corpo, no que diz respeito ao transplante de coração artificial, somente abaca de começar.