Por Jocelem Salgado
“Ser homem é o maior risco para a saúde”. A frase pode parecer um exagero, mas o alerta vem da Organização Mundial da Saúde, o órgão máximo no mundo que se dedica ao bem-estar das populações.
Os fatos explicam: na idade jovem, são os homens que mais morrem de acidentes de carro e assassinatos. Eles bebem mais, cometem mais imprudências, se envolvem mais em brigas, se ligam ao crime ou se acidentam no trabalho.
Aqueles que sobrevivem, chegam na meia-idade e entram na velhice sem nenhum cuidado médico. Enquanto as mulheres têm seus ginecologistas desde adolescentes, os rapazes só vão ao médico – geralmente ao pronto-socorro – em caso de acidente ou alguma crise.
A prevenção nunca foi uma preocupação entre a nossa população, por falta de hábito e da precariedade dos sistemas de saúde. Mas as mulheres, ao visitarem o médico com mais frequência, acabam prestando mais atenção a seu corpo e descobrindo doenças mais cedo, ou antes que elas apareçam.
Isso não acontece com o homem. É exatamente por isso que as sociedades médicas e a Organização Mundial da Saúde estão defendendo a ideia de que o adolescente homem também deve ter um médico que cuide de seu corpo como um todo.
Na prática, quando deixa de necessitar dos cuidados do pediatra, o jovem só verá um médico muito mais tarde, quando algum problema sério já está acontecendo, ou um acidente o leva ao pronto-socorro. Esse quadro está mudando aos poucos, especialmente entre os grupos de maior escolaridade e poder aquisitivo e que mais cedo começam a se preocupar com sua saúde e forma física. No geral, no entanto, ainda vale a regra de que médico e cuidados médicos só têm a ver com a doença, não com a saúde.
Em outras palavras, estamos querendo dizer que o adolescente precisa de um médico “cuidador”, assim como a menina adolescente e as mulheres têm o seu ginecologista, pelo resto da vida. Este médico poderia ser um urologista, ou mesmo um clínico geral.
Veja que esta não é uma posição apenas minha, mas de muitas sociedades médicas. O adolescente não pode deixar o pediatra e ficar longe de cuidados médicos por 30 ou 40 anos, como acontece. Seria muito melhor para sua saúde se tivesse alguém que o acompanhasse e o orientasse ao longo desse período. Veja o caso das doenças da próstata. A maioria dos homens ainda não se submete aos exames recomendados a partir dos 40 ou 50 anos, por preconceito, quando uma simples conversa com um médico de confiança poderia mudar esse quadro. Detectadas no início, doenças benignas ou malignas da próstata podem ser curadas na grande maioria dos casos.
Sexualidade e saúde
A saúde do homem passou a merecer mais atenção e mais espaço na mídia por caminhos que têm mais a ver com seu desempenho sexual, não com sua saúde. Com o surgimento dos comprimidos orais para disfunção erétil ou impotência – os Viagras, Cialis, Levitras e outros que virão – os laboratórios passaram a investir em pesquisas médicas que se dedicam a estudar e a entender as práticas e atividades sexuais dos homens.
Até agora, nada tinha sido feito nesse campo. Descobriu-se então o que já era esperado: que os homens tinham uma série de preconceitos sobre sexo, que acreditavam em mitos e informações totalmente errôneas e, especialmente, que não cuidavam ou cuidavam pouco da sua saúde.
Foram muitos estudos, mas a conclusão vem sendo unânime: as pessoas mais desinformadas, que visitam menos o médico, e por isso cuidam menos da saúde, formam o grupo que tem maior problema com a ereção. Conclusão: a impotência, ou disfunção sexual, e mesmo a falta de vontade ou libido, na grande maioria dos casos são resultados de outros transtornos físicos, de saúde. Pílulas para ereção podem ajudar, mas não vão resolver a origem dos problemas.
Alimentação e saúde
Não sou urologista, nem sexóloga, nem participei de pesquisas sobre as atividades e dificuldades sexuais entre homens ou mulheres. Mas como professora de nutrição e pesquisadora da relação entre alimentação e saúde, tenho muito a dizer sobre esse tema.
Quem não se alimenta bem, quem não nutre corretamente seu organismo, acaba tendo uma série de problemas de saúde. A saúde sexual é apenas um termômetro da saúde em geral. É um dos alarmes que disparam primeiro, mas poucas pessoas estão atentas a esse alarme. Ter dificuldades de ereção ou não ter desejo são questões que a maioria não conta aos amigos. Muitos não contam nem mesmo ao médico, sem falar que a maioria delas nem vai ao médico por essas razões.
Há uma tradição milenar relacionando determinados alimentos com o desejo sexual e mesmo com a ereção. Nada foi provado nesse campo até hoje. Mas há um afrodisíaco que faz efeito e que sempre contribui para o bom desempenho sexual: é a alimentação saudável, e que deve fazer parte do nosso cotidiano.
Quando digo que há uma série de alimentos que contribuem para a prevenção de doenças e mesmo o controle de certas patologias, estou dizendo que há receitas capazes de melhorar e garantir a sua saúde. E se você está mais saudável e com peso adequado, também terá uma atividade sexual mais intensa, mais prazerosa.
Quando alguém se sente bem física e psiquicamente – posso acrescentar o espiritualmente – esse alguém está mais disposto e mais capaz de praticar as atividades que o corpo (e a alma) lhe dão prazer. E o sexo é certamente uma das práticas que melhor revelam a boa relação do corpo com o espírito. E que só trazem bons sentimentos e energias a homens e mulheres.
Viagra e alimentação
Vamos deter nossa conversa num fato aceito por todos os médicos: que o prazer e o bom desempenho sexual estão diretamente ligados à saúde. E eu, representando os especialistas que estudam a alimentação e a saúde, posso dizer que seu desempenho em todos os campos da vida, do trabalho ao relacionamento sexual, depende do que você come.
A boa alimentação começa com a amamentação, que deve se estender por pelo menos seis meses, exclusivamente. Prossegue depois com os pratos variados e atraentes que devem ser oferecidos aos bebês, e a alimentação variada que deve fazer parte do cardápio das crianças. É nesta fase que aparecem as tentações dos junk foods, os big lanches e outros cardápios que lembram os sanduíches saborosos. Eles são perigosos porque oferecem sabor, dão a sensação de saciedade, mas têm muitas calorias e são pobres em fibras, vitaminas, e outros nutrientes importantes para nossa saúde.
O mais grave é que esses hábitos, adquiridos na infância e na adolescência, vão ser seguidos na vida adulta. É pouco provável que um jovem que não aprendeu a comer frutas, legumes e verduras – balanceados com algum alimento rico em proteína – venha a mudar seus hábitos na maturidade. O resultado é uma alimentação pobre que não cria defesas no organismo, e que precipita o aparecimento de doenças.
Mas bem antes de surgirem as doenças, o organismo dará sinais de que sua máquina não está recebendo o que necessita, e o que necessita, na maioria das vezes, é uma alimentação adequada.
Um dos sinais está relacionado à saúde sexual. Por envolver muitos preconceitos, esse tipo de sinal nem sempre é percebido, ou nem sempre é relacionado à saúde do organismo em geral.
Como vimos acima, esse é um engano comum a todos nós. Qualquer manifestação de que a vida sexual não vai bem, a causa a ser procurada está na saúde do organismo como um todo.
Ninguém tem problemas sexuais por acaso. Antes de procurar resolvê-los com comprimidos que estão à disposição nas farmácias, procure saber como anda sua saúde. E, antes de tudo, procure saber como você está se alimentando. A resposta para seu problema pode estar no estresse do seu cotidiano, que levam a refeições apressadas e nada saudáveis. Seu “viagra” e seu “afrodisíaco” podem estar numa alimentação mais saudável.”